Se você me perguntar sobre vícios, tenho vários. São tantos que nem me preocupo em lista-los um a um. Porém, se você me perguntar um único vício que eu gostaria de passar aos meu filhos é sem dúvidas minha obsessão pelo novo. A necessidade da descoberta. O vício da viagem. A agonia em ficar parado no mesmo lugar.

Quando viajei pela primeira vez, entendi que tudo que julgava real era relativo. Tão relativo quanto entender que nem tudo que você julgava certo, está certo. O mundo se abria rapidamente e eu me deixava engolir com uma prazerosa sensação de “quero mais”. Enquanto o mundo me sugava, eu também sugava o mundo. Sugava amizades eternas e lentas caminhadas. Sugava sorrisos gratuitos e abraços sinceros. Sugava longas gargalhadas de meus erros e longos anseios de meus medos. Sugava minha vida, enquanto a vida me sugava.

Quando pisei fora do mundo, pisei dentro de mim. Foi neste dia que descobri quem eu realmente era. E eu era muito maior do que eu mesmo me julgava. Eu era muito superior a qualquer estojo de canetas coloridas do colégio ou novas chuteiras da nike que antes determinam o tamanho de uma amizade. Era muito maior que roupas importadas ou grifes descoladas. Eu descobri em mim, meu próprio mundo de possibilidades.

Foi quando pisei no mundo que não entendi o mundo. Era tudo tão simples nas aulas de geografia… Uma linha aqui e virava Rio de Janeiro. Outra linha alí e já era o mar. Se adicionar mais uma, então, chegamos na África. Tudo tão simples, tão preciso, tão fácil – porém mentiroso. Que preguiça imaginar países como retas e cores de um atlas. O mundo é tão mais do que isso!

O mundo é tão grande. Grande como a gente. Gente de verdade. Gente que mergulha de cabeça no idioma local. Gente que cai, mas levanta. Que aprende a julgar atitudes e não cores, e sexos. Gente que entende gente. Gente que divide sua comida e se alegra com isso. Gente que entende que aquela amizade de uma semana no albergue em Paris, talvez seja a mais intensa de sua vida. Gente que viaja. Gente que sente.

Não morra sem ser gente.