Goiano com síndrome pós-poliomielite é contemplado com premiação concedida a pessoa com deficiência por produção musical e luta contra o capacitismo na área cultural

O cantor e compositor Silvio Soũls é um dos premiados pelo Ministério da Cultura do Governo Federal por relevância atuação na área cultural e luta contra o capacitismo. A certificação é resultado da expressiva carreira do artista como pessoa com deficiência (PCD) ao longo de 34 anos.

Soũls, que já compôs música tema de congresso internacional no México em 2016, diz viver um bom momento na carreira. O cantor, que também é produtor cultural, está entre 1.116 habilitados em todo Brasil de 50 categorias, sendo que apenas 14 pessoas PCDs foram contempladas na região Centro-Oeste.

“O artista com deficiência precisa procurar seu espaço porque não tem essa de ‘coitadinho’, tampouco essa de ‘superação’, já passamos dessa fase, hoje a pessoa com deficiência pode ocupar qualquer espaço cultural e não precisa se esconder atrás de suas limitações”, comenta.

Em relação ao capacitismo, Soũls explica que é mais uma forma de discriminação e preconceito contra pessoas com deficiência, e que muitas atitudes estão enraizadas e passam desapercebidas. Por exemplo, ele cita a expressão “dar uma de João sem braço” é considerada uma expressão com atitude capacitista que pode causar incômodo e constrangimento aos PCDs.

Ele destaca que ter alguma deficiência oculta aumenta ainda mais o desafio de viver em sociedade por conta da falta de empatia das pessoas. “Acontece o tempo todo comigo, no meu trabalho, nos meus shows, as pessoas ficam me questionando, fazendo piadinhas, tipo; ‘ah! ele não parece ter deficiência’, isso além de ser irritante é extremamente capacitista”, esclarece.

O cantor Soũls acredita que é possível parabenizar uma pessoa por uma conquista sem assumir isso como milagre ou superação. “Chamar uma pessoa com deficiência de ‘guerreira’, ‘um exemplo de superação’ ou dizer que suas conquistas são ‘um milagre’ são formas de capacitismo. Isso porque os comentários partem do princípio de que a deficiência é um impedimento e que essas pessoas são guerreiras por enfrentar os obstáculos, o que não passa de um mero engano”, explica.

A Premiação Cultura Viva Sérgio Mamberti é concedida pelo Ministério da Cultura, por meio da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC/MinC), e faz homenagem ao ator, produtor, diretor, autor, artista plástico e gestor cultural, Sérgio Mamberti, falecido em 2021.

Arte contra o capacitismo

O cantor teve poliomielite aos quatro anos de idade e desenvolveu síndrome pós-pólio aos 14 anos, doença rara e degenerativa. Como era rejeitado na infância pelos amigos por conta da sua condição, começou a escrever poemas na adolescência e a tocar violão, aos 14 anos.

Como não tinha muitos amigos por conta pólio, isso o impulsionou a mostrar o valor do PCD no meio artístico. Em 2016, foi convidado para compor a música tema do Simpósio Internacional de Sobreviventes da Poliomielite, que aconteceu no México. O cantor viajou até a Cidade do México e cantou a canção “Sobrevivente da pólio” que estampou as páginas da revista mexicana La Discapacidad em Accion.

Em 2022, formou o Coral Vozes da Comurg com 15 integrantes varredores de rua. O grupo fez apresentações em TVs, entidades públicas e privadas, e foi destaque em vários jornais por oportunizar a participação da classe de trabalhadores da limpeza urbana de Goiânia em um projeto musical.

Após 34 anos de carreira, em março desde ano, lançou seu primeiro disco com 10 músicas autorais. “Me sinto realizado por todo meu trabalho porque eu nunca quis exposição com as coisas que faço, e receber este prêmio é um reconhecimento de que tudo o que tenho feito tem dado frutos em alguém ou em algum lugar, isso é o que importa”, comemora.

Fotos: Matthaws Lima

Fonte: www.girogonoticias.com.br