Em meio as dificuldades do último ano, a médica oncologista Carol Lopes Nourani colecionou registros de instantes no serviço de oncologia onde trabalha. A seguir ela nos conta um pouco sobre si mesma e o processo criativo de INSTANTES, em um bate papo com nossa amiga, a atriz e produtora Lu Chagas.
Lu Chagas: Você é médica oncologista. E quando se fala em Oncologia, falamos de uma área da medicina com grande carga emocional envolvida, não é?
Carol: Sim. A oncologia é responsável pelo diagnóstico, tratamento curativo e, nos casos nos quais o câncer não é mais possível ser curado, tratamento paliativo que visa aumentar o tempo de vida do paciente, melhorar a qualidade de vida e também proporcionar uma morte digna. Eu sou oncologista clínica, que é uma especialidade médica, responsável pelo tratamento medicamentoso dos diversos tipos de câncer (quimioterápico, hormonioterápico, imunoterápico, terapias alvo-moleculares).
Lu Chagas: De onde surgiu a ideia do livro?
Carol: Inicialmente, nem tinha essa pretensão. Comecei a fotografar, como registros pessoais e como uma terapia, buscando caminhos para tentar diminuir minhas angústias e tristezas do momento. Junta-se à carga natural do trabalho todo esse momento caótico que estamos vivendo. Estamos passando por momentos muito agonizantes.
Lu Chagas: Então não foi algo planejado?
Carol: Planejado?? De forma alguma. Entre uma consulta e outra, eu saia do consultório e entrava no meio do salão de quimioterapia; na farmácia; no posto de enfermagem, e ficava olhando tudo aquilo acontecendo e apesar das minhas angústias interiores eu achava aquilo tudo bonito.
A vontade de viver dos pacientes e a dedicação dos profissionais da saúde faz a luta contra o câncer ser bonita. Isso tudo me inspirou.
Lu Chagas: Eu sei que além da medicina, você tem paixão pelas artes. E isso por si só já te deixa envolta em um universo de criação e sensibilidade. Como foi esse processo de fotografar?
Carol: O mundo das artes me fascina, gosto de música, de atuar. No meu caso, esse universo é realmente uma fantástica válvula de escape. O Artista é antes de tudo um ser com vocação sensorial da alma. A produção desse material fotográfico sempre teve um olhar despretensioso. Olhava, gostava…registrava, era para um acervo pessoal. Nenhuma foto que fiz foi posada, eu pegava tudo de relance, sem avisar. Aí eu chegava em casa e ficava vendo as fotos e isso me dava paz.
Lu Chagas: Você fez tudo de forma bem simples, no melhor estilo ‘faça você mesmo’.
Carol: Exatamente! As fotos foram todas feitas do meu celular. Eu mesma fiz a diagramação do livro, usando um aplicativo de celular.
Lu Chagas: E o que motivou você a divulgar esses registros?
Carol: As fotos me ajudaram muito, e por isso há uns dois meses, mais ou menos, achei que se eu mostrasse aquelas fotos para os meus colegas de trabalho e para os pacientes, eles também ficariam felizes. Às vezes na correria e na dor do dia a dia nós esquecemos o quanto os pequenos e breves instantes da vida podem ser bonitos.
Lu Chagas: Você não pensou em usar uma câmera fotográfica?
Carol: Eu amo fotografia, já fiz curso e até tenho uma câmera muito boa, mas essas fotos e o impulso dos registros foram bem espontâneos, não planejadas, ali no dia a dia. Eu só senti as cenas do cotidiano na minha frente e usei o que tinha em mãos: o celular.
Lu Chagas: Qual foi a reação das pessoas ao livro?
Carol: Quando a minha equipe e pacientes viram as fotos, eles não acreditavam que eram eles ali! Que aquela imagem linda era a mão deles, o chão onde pisavam, o algodão que seguravam… eles se sentiram
belos! E importantes! Fez eles perceberem que apesar de toda dor que existe ali, também existe beleza e que todo trabalho faz sentido! E isso transbordou em mim a alegria.
Lu Chagas: Imagino que você tenha feito muitas fotos. Como foi a escolha para o livro?
Carol: Comecei a selecionar as imagens que mais gostava. Escolhi apenas 40 fotos para imprimir. O resultado dessa coletânea foi tão legal, como resultado artístico e principalmente pela repercussão nas vidas dos que viram. Todos se sentiram tocados. Quis fazer um livro dessas fotos pra lembrar meus pacientes e colegas de que há beleza no caos!
Lu Chagas: E o que vem agora? Vai parar por aí?
Carol: A repercussão foi tão impactante que a minha ideia agora é levar a “câmera boa” para o trabalho e sempre que tiver uma chance quero continuar captando esses instantes. Que são tão efêmeros e tão belos! A poesia só existe porque há vida humana.
Lu Chagas: E onde podemos ver o livro?
Carol: Eu só imprimi dois exemplares, um fica no serviço a disposição de todo mundo que chega (funcionários, pacientes, familiares, prestadores de serviço…) e outro carrego comigo pra mostrar pra pacientes e familiares. Penso em divulgar aos poucos as imagens nas redes sociais e num futuro próximo reunir mais fotos e imprimir mais exemplares. Ou quem sabe alguma editora se interessa em publicar e o livro possa ter um alcance maior. Seria incrível! Pra quem quiser saber mais, pode me mandar um DM no instagram @carollopesnourani.