O médico sexologista diz que ambos os sexos são afetados, mas de forma distinta
Longas jornadas, prazos apertados e a pressão constante para alcançar resultados no trabalho criam um ambiente propício para o estresse e a exaustão física e mental. Esses fatores comprometem diretamente a libido e geram impactos devastadores na vida dos casais.
De acordo com o médico sexologista e terapeuta sexual João Borzino, a libido é a energia vital que impulsiona o desejo sexual e é essencial para a conexão emocional e física dos indivíduos.
“Ela está profundamente enraizada em bases fisiológicas, psíquicas e comportamentais. Do ponto de vista fisiológico, a libido é influenciada por hormônios como a testosterona, que desempenha um papel importante tanto em homens quanto em mulheres, além de neurotransmissores como a dopamina e a serotonina. Estudos recentes apontam que desequilíbrios hormonais ou alterações no sistema nervoso central podem reduzir significativamente o desejo sexual. No âmbito psíquico, fatores como autoestima, estado emocional e experiências anteriores moldam a maneira como cada pessoa vivencia sua libido. O estresse crônico e a ansiedade, por exemplo, são conhecidos por reduzirem a capacidade de sentir desejo. Já no aspecto comportamental, hábitos saudáveis — como alimentação equilibrada, prática de exercícios e sono de qualidade — são determinantes para manter o desejo sexual ativo”.
O médico explica como o excesso de estresse e a rotina exaustiva no trabalho afetam a libido. “O estresse crônico ativa o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, levando a um aumento de cortisol no organismo. O cortisol, por sua vez, reduz a produção de testosterona e interfere no equilíbrio dos neurotransmissores responsáveis pelo desejo sexual. Além disso, o estresse psicológico suprime a capacidade de se desconectar mentalmente do trabalho, prejudicando a intimidade”, esclarece.
Tanto homens como mulheres são afetados pelo problema. “Quanto à questão de gênero, ambos são afetados, mas de formas distintas. Nos homens, a queda na libido pode ser acompanhada de disfunção erétil; já nas mulheres, o impacto se manifesta frequentemente como redução do desejo e dificuldades de excitação. Pesquisas apontam que as mulheres podem ser ligeiramente mais afetadas devido à sobrecarga emocional e doméstica que frequentemente acumulam”
João Borzino afirma que é essencial adotar uma abordagem holística. Ele citou algumas estratégias:
“• Gerenciar o tempo e delegar tarefas: Evitar sobrecarga é fundamental.
- Praticar atividades físicas: Exercícios regulares reduzem o estresse e aumentam os níveis de dopamina.
- Cuidar do sono: A privação de sono é um inimigo silencioso da libido.
- Procurar terapia: Sessões com um terapeuta sexual podem ajudar a compreender e superar bloqueios”.
Ele diz que essa é uma queixa comum no seu consultório. “Muitos pacientes relatam que o trabalho tomou conta de suas vidas, deixando pouco ou nenhum espaço para o relacionamento. Esse fenômeno é amplificado em profissões altamente demandantes ou com jornadas extensas. A boa notícia é que, com tratamento adequado, é possível reverter esse quadro”..
Mas, ao contrário da questão, ter uma rotina sexual satisfatória melhora a produtividade no trabalho. “A atividade sexual libera endorfinas e oxitocina, hormônios associados ao bem-estar e à redução do estresse. Esses benefícios impactam positivamente o humor, a produtividade e até mesmo a criatividade no ambiente de trabalho. Manter uma vida sexual ativa e satisfatória pode, portanto, ser uma forma de aprimorar a saúde geral e o desempenho profissional”.
A interferência da Síndrome de Burnout
De acordo com o especialista, a Síndrome de Burnout, reconhecida pela OMS como uma condição associada ao trabalho, é um dos problemas mais prejudiciais nesse contexto. “Caracterizada por exaustão extrema, despersonalização e sensação de ineficácia, essa síndrome tem efeitos profundos sobre a saúde sexual. Pessoas com Burnout frequentemente relatam diminuição ou perda total do interesse sexual, o que pode levar a conflitos no relacionamento e distanciamento emocional. Estudos indicam que 65% das pessoas com Burnout apresentam algum tipo de disfunção sexual, evidenciando o impacto dessa condição”.
Borzino deu cinco dicas para casais melhorarem a vida sexual em meio ao estresse causado pelo trabalho:
- Priorizem o relacionamento: Reservem momentos exclusivos para estarem juntos, sem distrações.
- Pratiquem mindfulness: Técnicas de atenção plena ajudam a reconectar o casal e diminuir o estresse.
- Planejem escapadas românticas: Pequenas viagens ou finais de semana juntos são ótimos para reviver a intimidade.
- Conversem abertamente: Comunicação é a base para superar desafios e alinhar expectativas.
- Procurem ajuda profissional: Se o problema persistir, um terapeuta sexual pode oferecer suporte eficaz.
A saúde sexual é um reflexo do equilíbrio entre corpo, mente e emoções. Lembre-se: cuidar da libido não é apenas cuidar do desejo, mas também fortalecer os vínculos e a qualidade de vida.